O ensino particular em Portugal está, cada vez mais, na mira de muitos pais e encarregados de educação.
Depois de dois anos de ensino, pontualmente interrompido pela pandemia de Covid-19, cujas consequências as nossas crianças e jovens ainda estão a pagar, eis que 2023 parece trazer uma nova preocupação sob o seu normal desenvolvimento: as sucessivas greves no ensino público.
Encontrando-me profundamente solidária com as suas reivindicações, e reconhecendo o confronto complexo entre as liberdades de aprender e de ensinar, não posso deixar de expressar a minha preocupação com o rumo do ensino em Portugal e com as nossas crianças que são, também o futuro, deste país.
O ensino particular em Portugal nunca pretendeu substituir o ensino público. No Externato Champagnat (ensino pré-escolar e básico – 1.º, 2.º e 3.º Ciclos), como em muitas outras escolas privadas, o que sempre procurámos foi oferecer uma alternativa aos pais e encarregados de educação, assente num projeto educativo laico e humanista forte, capaz de transformar crianças e jovens em cidadãos livres, participativos, responsáveis e informados.
Nestes quase 50 anos, a nossa escola, situada numa ampla quinta perto do Aeroporto de Lisboa, foi casa para muitos filhos de profissionais ligados ao setor da aviação, que aqui encontraram uma escola com horários mais flexíveis e aberta todos os dias do ano.
Nos últimos anos, temos verificado um aumento das inscrições de alunos vindos de outras realidades e achamos que tal se deve à procura de uma estabilidade que o ensino público, infelizmente, não tem conseguido oferecer. Esta ideia foi, aliás, recentemente partilhada pelo Diretor Executivo da Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo (AEEP) no Diário de Notícias.
O apoio psicopedagógico que disponibilizamos gratuitamente aos nossos alunos, é, desde logo, um fator decisivo. Além de constatarmos que as famílias de hoje têm maiores necessidades no que diz respeito à educação inclusiva, a própria UNICEF já vinha a alertar para o impacto da pandemia de Covid-19 na saúde mental das crianças. No caso específico português, o Ministério da Educação tem procurado uma solução para dar resposta ao aumento acentuado de pedidos de apoio por parte dos alunos, nomeadamente no sentido de os casos poderem ser encaminhados para o SNS, mas não tem conseguido, infelizmente, dar resposta.
Depois, os projetos tecnológicos que pioneiramente temos vindo a implementar têm levado pais e encarregados de educação a confiarem-nos os seus filhos, sem receios, já que procuramos prepará-los tanto para as oportunidades como para os riscos que a era digital consubstancia. Têm, aliás, sido divulgados vários estudos, recomendações e brochuras nesse sentido, das quais destaco a da OCDE sobre as Crianças do Século XXI: Riscos e Resiliência Digital.
Por fim, o acesso, em horário prolongado e ao longo de todo o ano, a inúmeras atividades extracurriculares, visitas de estudo e a amplas e diferenciadoras instalações, como a horta, o olival, o laboratório ou a sala de música (para dar apenas alguns exemplos), descansa os nossos pais e encarregados de educação, cujas características familiares e profissionais exigentes, obrigam a que a escola seja um espaço dinâmico, capaz de se reinventar e adaptar, sem perder o foco da sua missão — educar.
Diretora do Externato Marcelino Champagnat
Dra. Maria Odete Amaro
14 junho 2023
Fonte: Diário de Notícias